22 janeiro, 2008

O Bicho

Primeiro vendemos o carro. Teve de ser. A gente habitua-se aos horários dos transportes; e andar a pé faz bem à saúde, como se costuma dizer.
A casa foi a seguir. Depois de nos terem vindo buscar os móveis. Ainda estivemos uns dois ou três meses em casa dos meus cunhados, mas, é como se costuma dizer, as visitas ao fim de três dias cheiram mal.
Viemos para aqui. Vendemos o ouro da minha mãe, pedimos algum emprestado e lá deu para comprar a auto-caravana em segunda mão. Cá estamos; nunca pior, como se costuma dizer.
Nos meses em que o parque fecha, é de lei, dizem eles, vamos para o quintal do meu irmão, passamos lá o Natal.
As senhoras assistentes queriam pagar-nos um quarto na baixa, como não temos filhos era mais fácil e sempre estávamos melhor. Mas tinha de me desfazer do bicho, e isso eu não aguentava.

20 janeiro, 2008

Primeiro Dia

não vale a pena fingir:
o tempo passou

e eu passei com ele

brilha o sol do primeiro dia
e invento um tempo novo.

Agulhas

no tempo em que escrevia poemas
nada sabia de agulhas

Crisálida

nem larva, nem borboleta
eterna crisálida sonha o voo
no casulo

A Curva

se a manhã vier
meu amor
diz-lhe da curva
não te esqueças da curva
amor
onde nos perdemos

Bastidores

- …
- ó rosa arredonda a saia, ó rosa arredonda-a bem…
- larga-me!
- quem é que mexeu nos meus óculos?
- dá-me aí o aqua-color branco, please!
- as minhas meias?
- pá, é sempre a mesma merda, já estou a ficar farta de fazer a tua contra-regragem!
- que horas são?
- fazes-me o risco dos olhos, amor?
- quem é que me tirou daqui as meias, caralho?
- meu, isto são horas de chegar?
- brá-bran-grá, brá-bran-grá, pá-pé-pi-pó-pu…
- ALGUÉM VIU AS MINHAS MEIAS????
- chá –á- á, chá da índia, chá da pérsia, chá chinês…
- estou bem assim?
- segura-me aqui, por favor.
- olha lá, o que aconteceu ontem na tua cena da vassoura?
- de quem são estas meias?
- pronto, estás lindo!
- ainda dá para fumar um cigarro?
- trá-tré-tri-tró-tru…
- essa água é minha!
- alguém tem um comprimido para as dores de cabeça?
- já não há toalhitas!
- que horas são?
- …